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Luiz Santander

Luiz Santander nasceu em São Paulo, mas sempre morou em São Caetano. Estudou na Escola Bartolomeu Bueno da Silva, escola pública na Vila Gerty (SCS). Fez os cursos de matemática (na antiga FEC, atual UniABC) e economia no antigo Imes (USCS). Nesta instituição, participou do Diretório Acadêmico e da Atlética no início dos anos 1980. Fez mestrado em administração no Imes e é professor da USCS desde 1988. Trabalhou também por 22 anos na Cia. Brasileira de Cartuchos, em Santo André. Vivenciou o final da ditadura, a redemocratização e as lutas estudantis. Imagem do Depoente
Nome:Luiz Santander
Nascimento:27/01/1952
Gênero:Masculino
Profissão:professor
Nacionalidade:Brasil
Naturalidade:São Paulo (SP)

Transcrição do Depoimento de Luiz Santander em 07/07/2005
Depoimento de LUIZ SANTANDER, 53 anos.

Universidade Municipal de São Caetano do Sul, 07 de julho de 2005.

Núcleo de Pesquisas Memórias do ABC 

Entrevistadores: Vilma Lemos, Priscila F. Perazzo e Danielle Barbosa.

Transcritores: Meyri Pincerato, Marisa Pincerato e Márcio Pincerato

 

Pergunta: Por favor comece falando a data e local de seu nascimento e um pouco sobre a sua infância e sua família.

 

Resposta:

Eu nasci em São Paulo. Já comecei minha vida diferente, porque nasci na Lapa, na cidade de São Paulo. Nasci a passeio, porque minha mãe estava na Lapa e sentiu as dores do parto e eu nasci lá. Ela estava visitando a irmã dela e eu nasci na Lapa, mas sempre morei em São Caetano. Após o nascimento já voltei para São Caetano e estou aqui desde então. Meu pai era uma pessoa muito conhecida e muito querida em São Caetano, porque era de uma família tradicional, que veio para São Caetano em 1940 e era barbeiro de profissão. Ele conseguiu passar essa profissão ao meu irmão do meio, porque tenho dois irmãos mais velhos, para o meu irmão Nelson, que depois virou advogado e não exerce mais, mas eu não virei barbeiro. Ele ficou barbeiro a vida toda, faleceu alguns anos atrás e perdi minha mãe também muito cedo, o que fez com que a família desse uma desestruturada. Minha mãe faleceu aos 45 anos e a família ficou só com homens. Aí foi quando eu já estava na faculdade e resolvi casar e seguir família muito cedo. Eu me casei com 23 anos. Minha infância toda foi em São Caetano, estudei nos colégios mais tradicionais de São Caetano. Fiz o primário no Bartolomeu Bueno da Silva, que até hoje existe na Rua Maranhão e depois fui fazer o ginásio e o colégio no Colégio Estadual de Vila Gerti, onde tive lá professores que hoje são meus colegas no IMES, Professor Laurito, Professor Emédio, que era secretário do colégio na época e fazia educação física na USP. Lá que conheci o Professor Emédio, que depois virou professor de educação física do colégio. Ele foi meu professor naquela época. Depois fui fazer matemática, porque era a minha paixão, na FEC, Faculdade de Educação e Cultura, que hoje virou a Uniabc. Nessa época entrei profissionalmente para trabalhar numa empresa da região, que é a Companhia Brasileira de Cartuchos, CBC, que mexe com armas e munições, onde fiquei 22 anos. Terminado o curso de matemática, não satisfeito em fazer só matemática, porque era pouco, era pouca loucura para um cara só, fui fazer um ano de estatística. Aí tive aula com o Professor Mauri Guerra, que é professor do IMES hoje, era naquela época e está até hoje com a gente. Casei em 1975 e para deixar a mulher sossegada um pouco, fui fazer engenharia em Mogi. Saía de casa seis e meia da manhã e voltava meia-noite, uma hora. Depois de Mogi, por causa da viagem ser cansativa, e a empresa pedindo muito, pedi transferência para o Mackenzie. Mas não me adaptei muito com engenharia. Não era a minha área, apesar de trabalhar profissionalmente como se fosse engenheiro, mas não tinha muita afinidade. Em 1981, a empresa estava precisando muito de pessoas com conhecimento na área econômica e financeira, eu assumi toda parte de suprimentos da empresa e não conhecia muito da parte financeira. Aí vim ao IMES e conversei com a dona Leila, na época secretária técnica do IMES e perguntei como poderia ser aluno do IMES no curso de economia. Ficou fácil, porque eu ia fazer duas matérias no primeiro ano, três no segundo. Eu me matriculei no IMES e prestei o IMES, não fiz nem vestibular porque não precisava, já era formado, e fiquei no IMES. Mas, dentro do meu perfil inquieto, entrei no IMES em 1981, fiz todas as matérias, vinha pouco no IMES, então não deu para fazer muita bagunça, mas mesmo assim já comecei a jogar futebol para os times do IMES e em 1982 entrei na Atlética do IMES.

 

Pergunta: Antes de entrar na Atlética, vamos voltar um pouco. Em qual bairro o senhor morava na juventude?

 

Resposta:

Bairro Santo Antônio. É a Rua Maranhão, Amazonas. Antigamente lá tinha o cinema que hoje, como todos os cinemas, virou igreja, o Cine Primax, que era na Maranhão com Amazonas e nós, nesse cinema, na minha infância, eu morava em frente ao cinema e o que eu fazia dos 7 aos 10 anos? A gente varria o cinema para não pagar o ingresso da matinê. Nós varríamos antes e depois. Nós éramos amigos do zelador do cinema e fazíamos esse serviço, a molecada da região. E minha infância toda foi ali.

 

Pergunta: Quais eram os filmes?

 

Resposta:

Tinha Marcelino Pão e Vinho. Na semana santa, que hoje não tem mais essa tradição, nós perdemos muitas tradições, mas na semana santa, semana de natal, passavam filmes bíblicos. Tinha os seriados que eram fantásticos. Você acompanhava o seriado todo domingo. E eram umas papagaiadas danadas, porque acabava de um jeito e começava de outro. O mocinho morreu, mas não morreu. Eram filmes antigos. Estou falando de 1962, 1960, porque eu tinha 8 anos em 1960. A nossa vida no bairro era essa, mas eu era muito inquieto. Eu sempre fui muito inquieto e eu ficava muito na rua jogando bola. E a minha mãe preocupada, ainda era viva, quando eu tinha 11 anos me colocou para trabalhar numa loja, que era a famosa Casa Curi, que ficava na Rua Amazonas, que era uma casa tradicional no comércio de São Caetano na época. A minha função era guardar as caixas de sapato. Os vendedores vendiam os sapatos, desmontavam, como até hoje as mulheres fazem, desmontam a loja e a gente ficava guardando os sapatos. Eu fui crescendo na loja. Eu cheguei na loja e não alcançava o balcão, mas fui crescendo e fiquei na loja 8 anos e cheguei a ser gerente da loja. Nessa época da loja, durante um ano eu tive de ir para São Paulo. Eu já tinha uns 17 anos e o dono da loja tinha montado um restaurante árabe em São Paulo e quem cuidava era a mulher dele. Só que a mulher ficou grávida, com uma gravidez de risco, e não podia trabalhar e não tinha ninguém para tomar conta do restaurante. Para quem sobrou? Lá fui eu para São Paulo, numa travessa da Rua Oriente, trabalhar para os amigos libaneses e judeus e tomar conta de restaurante. Fiquei um ano lá. Aí fui para o Tiro de Guerra, saí dessa empresa, fiz o Tiro de Guerra e com 19 anos entrei na CBC. Tinha acabado de entrar na faculdade de matemática quando entrei lá. A infância foi normal, com carrinho de rolimã, de empinar pipa, de quebrar braço empinando pipa nas ruas de casa, porque não tinha nem asfalto na época. As ruas tradicionais de São Caetano, eu estava lembrando disso com o pessoal, da Avenida Tijucussu, que hoje é tradicional, que tinha dois córregos, um de cada lá e era de terra. A gente jogava bola ali. Onde hoje você tem a Petrobrás, ali na entrada de São Caetano, onde você tem o boliche e aquele monte de prédios na entrada de São Caetano, ali tinha campos de futebol e árvores. O prédio onde moro hoje que é no centro de São Caetano, eu vi construir, derrubar as casas e construir. Então, São Caetano cresceu muito e a gente acompanhou esse crescimento. Quando fui estudar no colégio da Vila Gerti, ali perto onde tem o Sesi e clubes famosos como o Clube Gisela, só tinha o colégio e o resto era mato. A gente saía do colégio e como nós morávamos no centro, a gente vinha a pé pela Visconde de Inhaúma às onze da noite tranqüilamente. Vinha todo mundo brincando e conversando, e ninguém gostava de ônibus porque era caro e ninguém tinha dinheiro para isso, porque eram todos de famílias humildes. A gente vinha andando pela rua com a maior tranqüilidade. Os tempos são outros.

 

Pergunta: E tinha alguma tradição, por seus pais serem espanhóis, tinha alguma tradição espanhola?

 

Resposta:

Não. Meu pai era um espanhol falso, porque ele veio para o Brasil, veio para São Manuel, no interior, e logo se identificou com o interior. Ele ajudava muito aos irmãos, ensinava e até perdeu um pouco do castelhano. E pela função de barbeiro, o relacionamento com as pessoas era muito grande e ele não tinha muito relacionamento na língua. E a vida dele era religiosa. Ele era espírita, tinha uma atividade em um centro e era uma pessoa que fazia muitos trabalhos comunitários, visitava orfanatos, creches, e tinha um grupo de pessoas que iam com ele um domingo por mês. Ele gostava muito desse trabalho. E eu, individualmente, fui freqüentar em São Caetano um lugar chamado Missão Católica Espanhola, que era um grupo católico com padres e madres que tinham uma comunidade espanhola e eu fui fazer parte dessa comunidade espanhola, que com o tempo se desmanchou. Saiu de São Caetano e hoje essa comunidade tem um lar-escola em Cotia, que continua com as madres espanholas lá, cuidando da comunidade carente de Cotia. Nós ajudamos lá, onde uma vez a cada dois meses fazemos as paellas tradicionais e estamos lá ajudando muito pouco, porque na verdade eu, nos últimos anos, pela minha atividade docente, por causa de cursos e atividades que tenho no IMES, sobrou muito pouco tempo para você fazer essa parte comunitária. E tem de deixar espaço para os outros trabalharem um pouco. Lá se criou um grupo bom e de vez em quando a gente vai ajudar e fazer um trabalho, mas que hoje não é muito forte.

 

Pergunta: E o esporte?

 

Resposta:

A minha esposa brinca comigo que ela educou meus filhos em quadra de futebol, porque quando meus filhos nasceram e ainda eram pequenos, com 4 anos mais ou menos, eu não ficava em casa. Eu trabalhava o dia todo, estudava aqui no IMES e jogava na seleção do IMES e em outros times de futebol. Eles pagavam um pouco e a gente precisava jogar para ganhar um dinheirinho. Eu era goleiro de futebol de salão e fui jogar e a minha esposa, para acompanhar, levava os filhos para ver o pai jogar. Meus filhos cresceram um pouco também em vestiários de futebol, tanto que alguns colegas, hoje vendo os filhos, um está com 26 e outro com 28 anos, e que viram aqueles menininhos no vestiário e hoje um doutor, advogado e outro publicitário, vêem que a vida foi muito rápida. Meus filhos cresceram praticamente no IMES, porque o mais velho nasceu em 1976 e em 1981 eu já estava no IMES. E como tive muitas atividades no IMES, e nós vamos conversar sobre isso, eles, para estar com o pai, tinham de estar aqui. Eles viraram parte do IMES, tanto que o mais novo, quando foi fazer faculdade, queria fazer IMES e para sorte dele, como nós não tínhamos na época o curso de publicidade e ele estava no primeiro colegial na época, o IMES montou o curso de publicidade. Agora eu já sei onde vou fazer, ele falava, porque ele não queria fazer em nenhuma outra faculdade. Ele tem até hoje uma identidade muito grande com o IMES. Ele cresceu aqui dentro. Ele participava das festas, vinha aqui dentro, vinha nas quadras, jogava futebol com o pessoal. Ele aprendeu a jogar com o pessoal que jogava no IMES, porque o pai era goleiro e ele não é goleiro. Ele aprendeu a jogar com o pessoal dos nossos times de futebol. Ele ia ao vestiário e na quadra e virou mascote. Tinha camisa igual à dos jogadores do time, tudo igual. No momento em que teve o curso de publicidade foi uma festa para ele, porque já sabia onde ia fazer faculdade e fez, aqui no IMES.

 

Pergunta: Nós vamos para 1981 quando você fez o curso de economia?

 

Resposta:

Ciências econômicas na época. Eram quatro anos o curso e depois se transformou em cinco, mas eu fiz a turma de quatro anos, de 1981 a 1984. Fiz economia, só que, por ser inquieto, em 1982 eu comecei a jogar pela seleção de futebol do IMES e a participar da Atlética como diretor de futebol de salão. Naquela época um dos presidentes da Atlética era o Paulo Roberto Rivelli, que hoje dá nome ao nosso ginásio. Infelizmente o Paulo nos deixou muito cedo, mas ele virou meu amigo, quase meu irmão, porque nós tínhamos alguma coisa em comum, porque ele fazia aniversário no dia 25 de janeiro, por isso ele era Paulo, e eu fazia no dia 27 de janeiro, faço ainda. E nós viramos amigos e passamos a comemorar os aniversários juntos e passamos a ser muitos amigos. Aí ele me convidou para ser diretor da Atlética e em 1983 eu já fui Vice-Presidente da Atlética, só que o Presidente teve de se afastar e eu assumi a Atlética em 1983. Em 1984 eu já estava no quarto ano e fui Presidente do Diretório Acadêmico do IMES, ou seja, um aluno muito agitado. Eu acho que aluno não pode ser só aluno. Eu penso assim até hoje, mesmo sendo professor, eu penso que o professor não pode ser só professor. Ele tem de participar de atividades diferentes, da associação dos professores, de atividades, de cursos, e não pode ser preso a uma vida acadêmica, entrar e sair da faculdade. Isso não agrega valor. E um ponto positivo é que de 1982 a 1984 eu tinha um certo cargo na CBC, era superintendente de uma área que comandava 800 funcionários, 32 diretos, que trabalhavam comigo diretamente, e muitos alunos do IMES eu levei para a CBC, pessoal da Atlética, do Diretório Acadêmico, e consegui encaixar na época porque o relacionamento era importante. O aluno, eu acho que só conhecimento, só tirar nota 10 vai tornar ele um bom profissional, mas se ele não tiver um bom relacionamento, não dá. E a Atlética e o Diretório Acadêmico fazem isso. Eu entrei na Atlética e fiz grandes amizades lá, depois no Diretório Acadêmico tive um ano fantástico, um ano de atividades políticas, onde aprendi muito de política com o pessoal da minha chapa, que eram políticos e eu era esportista. Foi um ano muito saudável. Saindo da Atlética eu fui fazer pós-graduação aqui no IMES, em administração da produção, e fui convidado a dar aula. Aí a história começa a ficar mais complicada ainda.

 

Pergunta: Conte mais da Atlética nesses tempos, como começou.

 

Resposta:

Ela começou em 1978, com o Paulo Roberto Rivelli. A Atlética, de 1981 a 1984 foi muito forte, principalmente em três modalidades, handebol masculino, e quem comandava era o professor Emédio que era especialista em handebol, com uma equipe muito forte que foram várias vezes campeã da região e vice-campeã estadual, o futebol de campo que tinha uma equipe muito forte e o futebol de salão, também com uma equipe muito forte. Essas três equipes tinham um grupo muito forte de jovens na época: o mais velho era eu, com 31 anos e o mais próximo de mim tinha 24 anos. Esse grupo está junto até hoje, para você ter uma idéia da união que houve naquela época. E esse grupo criou uma união tão forte que começou a ficar conhecido. O IMES era muito conhecido nessa época porque naquela época as atividades universitárias não eram como são hoje, muito restritas à competição, mas existiam também as competições de torcida, então você tinha atividades em que a torcida também ganhava prêmios. Então, tinha os torneios universitários, os torneios patrocinados pela Souza Cruz, a Philip Morris, torneios esses em que o IMES ia e uma coisa ele garantia sempre, o troféu de melhor torcida. Nós tínhamos aqui um aluno conhecido como Branca, mas não sei o nome dele, não lembro, que era um negrão, forte, simpático, que conseguia arrebanhar a torcida e nós lotávamos ônibus e ônibus aqui do IMES e saíamos para ir para os ginásios. Nós chegamos ao absurdo, no Ginásio do Pacaembu, de ter de um lado do ginásio o IMES e, do outro lado, as outras faculdades. Metade do ginásio era do IMES. O aluno ia e participava e era uma festa, alegria. O IMES ganhava sempre o torneio de torcidas. E o movimento dentro do IMES vivia em função dessa comunidade de esportes e do Diretório. Os diretórios acadêmicos da época também eram mais atuantes, mais atuantes politicamente. Existia uma formação de partidos políticos mais fortes do que hoje. Hoje eles estão formados, mas na época o PT estava começando, os tucanos estavam começando, o PCdoB estava começando, e havia uma agitação política maior, então a faculdade vivia um clima esportivo e político. Associado com isso o diretório passou a fazer também festivais de música. A única coisa que não deslanchou na época e que hoje felizmente temos é o teatro, que hoje o IMES tem um grupo de teatro muito bom. Na época, faziam-se aqui festivais de música e apresentações, shows de cantores, de bandas, até que bons, que vinham aqui e faziam no pátio principal do Prédio B. Essa época do IMES foi muito ativa, muito boa. E nós fazíamos parte desse grupo. Em 1984, quando assumimos o Diretório Acadêmico, numa eleição conjunta, nós formamos uma chapa que tinha o pessoal da Atlética junto com o pessoal político, que representava uma facção política da época, que era o PCdoB. E do outro lado tinha o pessoal da outra chapa, que era Nosso Dia, Nossa Voz, que era um pessoal que representava o PT de São Caetano. Nós ganhamos a eleição e juntamos tudo, mas tornamos o IMES uma coisa só, abrimos o IMES para palestras de todas as correntes políticas para trazer essa informação para os alunos. Então, muitos políticos vieram ao IMES. Lembro que veio Rogê Ferreira, um político influente na época, Paulo Salim Maluf, que já era igual o que é hoje, Genuíno, que estava começando a ser Genuíno, Ivan Valente, que hoje é deputado estadual, Lélia Abramo, que era do teatro, mas era uma ativista política. Nessa época o IMES tinha essa vida social muito grande. Fizemos nessa época uma novidade, porque nós tínhamos aqui no Prédio B um local chamado Mangueirão. Era uma sala de aula improvisada, que cabia 200 pessoas, onde eram dadas aulas de informática. Os monitores eram televisores de 23 polegadas, colocados suspensos, e o professor Botelho dava aula de informática usando esses monitores que eram televisores. Imagina hoje a evolução que nós temos. Nosso laboratório de informática hoje é modelo, com computadores de última geração. Mas na época era o que existia. E nós usamos essa sala, aos sábados, para fazer sessão de cinema, com videocassete, que estava começando. Hoje se fala em DVD, mas naquela época o videocassete era novidade. E montamos aos sábados sessões de cinema, de manhã e à tarde, após as aulas, porque nós tínhamos aulas de sábado. A turma da manhã terminava onze e meia e a turma da tarde era às quatro da tarde, e após isso tinha a sessão de cinema. A gente colocava um videocassete e lotávamos a sala, com gente em pé, para assistir aos filmes no IMES. O aluno ficava mais no IMES porque também tinha aula aos sábados. Aula de sábado faz com que o aluno passe a viver mais a faculdade até por obrigação, porque tinha de vir. E tínhamos muitas atividades, os shows musicais aos sábados, os filmes que a gente conseguia, com as amizades, trazer os filmes que estavam sendo lançados nas locadoras e nós já apresentávamos aqui. Nessa época também nós tivemos a felicidade de organizar uma, através do Paulo Roberto Rivelli, o IMES foi convidado a representar a Federação Universitária de São Paulo, nos Jogos Universitários, em Santa Catarina, em Florianópolis, em duas modalidades, handebol e futebol de salão. Comandando a equipe de handebol foi o professor Emédio e comandando a equipe de salão fui eu, que era o mais velho. Por ser mais velho me puseram para comandar, mas eu jogava também. E fomos para Floripa e ficamos alojados na Universidade Federal. Saímos daqui, o diretor era o Sílvio, preocupado com os alunos indo para lá, como ia ser, mas nós fizemos uma rifa na faculdade e fomos, isso é uma história fantástica, um Odissey, da Philips, esses aparelhos que hoje a molecada usa, e esses aparelhos foram doados pelo professor Fernandes, que trabalhava na Philips na época e essa rifa foi vendida para a faculdade inteira e arrecadamos dinheiro suficiente para ir viajar, comprar roupas, uniformes, e viajamos para Florianópolis e ficamos lá dez dias representando São Paulo. Fomos vice-campeões no futebol de salão e fomos campeões no handebol. O time de handebol era mais aplicado, tanto é que tinha o professor de educação física junto, que controlava mais o pessoal. O pessoal do salão era meio festivo. Tem até uma passagem dessa época em que o professor Emédio acordou durante a madrugada, era umas seis horas da manhã, e escutou, acordou com o barulho do ginásio, porque ele estava dormindo ao lado do ginásio, e ele chegou no ginásio e nós estávamos treinando, às seis horas da manhã. Ele perguntou o que a gente estava fazendo. Falei que a gente estava treinando porque tínhamos jogo às dez horas. Ele falou: Vocês chegaram agora? Chegamos. Nós tínhamos chegado às seis horas da manhã, porque o pessoal foi conhecer Florianópolis, as discotecas da cidade e esquecemos do horário e chegamos e tínhamos de acordar. O melhor jeito de acordar é queimar caloria. Treinamos durante uma hora e pouco, tomamos banho e fomos para o jogo e ganhamos, por incrível que pareça. Mas era um pessoal muito unido. A gente fez Floripa, Santos, competições no Estado de São Paulo e em vários lugares, São Carlos, e era fácil encontrar alguém do IMES. Você achava um e achava todos, porque todo mundo andava junto. Não eram grupinhos, mas uma comunidade. Você imagina que nós fomos em 32 alunos e quando você achava um, achava todos. O pessoal chegou em Santos procurando a gente lá e perguntaram se tinham visto um pessoal com agasalho. Acabaram de passar por aqui. Era fácil ver a gente. Não andávamos como o pessoal anda, grupinhos de três ou quatro, mas andavam os trinta juntos e até hoje esse pessoal tem o hábito de andar junto. A gente faz festas uma vez por ano com todas as famílias juntas, todos casados, com filhos. Mas essa época da Atlética era muito forte e ficou forte exatamente porque o Paulão, em 1983, passou a ser presidente em São Paulo e isso trouxe muita força para o IMES. Teve uma passagem em que ele queria sair um pouco do esporte e fazer um concurso de miss universitária. Só que para fazer isso precisava de patrocínio, de juízes, de investimento, e na época nós tínhamos um ex-atleta, o Akira, um japonês fantástico, e o João Franco que tinham uma facilidade incrível de arrumar as coisas e nós arrumamos patrocinadores, juízes e o local para fazer, que era numa boate na Nove de Julho, em São Paulo. Arrumamos tudo gratuitamente. Os patrocinadores eram a Ótica Lia, de Santo André, Penalty, Waguinho Esportes, Brasilit, porque o Akira tinha um depósito de construção e fomos conseguindo várias empresas para patrocinar e também pusemos a candidata do IMES, uma chinezinha linda, que por uma coincidência, por ser a mais bonita, mais elegante, foi eleita a miss universitária, é lógico. Até podia falar que houve marmelada, mas ela era realmente a mais elegante. Houve toda uma produção, um trabalho bom, e a torcida nossa também era muito forte. O Paulo trouxe para nós essa força do esporte. Infelizmente o Paulo morreu muito cedo, em 1990 e aí essa parte de esportes do IMES perdeu muito. Está muito fraca hoje porque também não houve renovação, não houve continuidade, e também não havia esse suporte que o Paulo dava. E aquela época era outra. As coisas hoje são mais difíceis. Naquela época a gente conseguia as coisas mais fáceis. Para conseguir hoje o que nós conseguimos naquela época, acho que não seria tão fácil. Primeiro que o IMES naquela época tinha três mil alunos e hoje somos seis mil e quinhentos.

 

Pergunta: E a história do Yakult?

 

Resposta:

Você vai lembrar dessa história? Para ir para Florianópolis fizemos um agasalho, tudo feito sem dinheiro, porque não tinha dinheiro. Precisava entrar o dinheiro para poder pagar. Quem fez o uniforme foi o Waguinho. Só que ele mandou fazer em terceiros. Nós escolhemos o modelo, as cores e ficou pronto na véspera da viagem. Quando nós fomos pegar os agasalhos, a cor não tinha nada a ver com o que nós escolhemos. Tinha opção? Não. Tinha de ser aquele mesmo. Para vocês conhecerem o agasalho, ele ficou conhecido como Yakult, porque lembra em muito as cores da Yakult, e virou gozação. Nós chegamos em Florianópolis e o pessoal, já chamavam a gente de Yakult, porque já conheciam o Yakult, mas não sabiam que nós mesmos já estávamos nos chamando de Yakult. E o pessoal do handebol, foi uma turma do salão que fez esses agasalhos, a turma do handebol foi com um agasalho diferente, muito mais discreto e bonito. Só que chegando em Florianópolis, em setembro, na semana da pátria, um frio daqueles de 2 graus, roupa nenhuma agüentava, só o Yakult, porque o nosso agasalho era de elanca e era quente e ninguém mais tirava o agasalho. O Yakult ficou famoso, primeiro por ser ridículo, ele era feio, mas ficou famoso porque o pessoal não largava. Ficamos dez dias lá e o pessoal não tirava o agasalho porque era a única coisa que fazia frente ao frio. E os outros colegas do handebol perguntavam se não tinha algum sobrando, porque era feio, mas era quente. E depois, por esse fato, o pessoal não deletou o agasalho. Mesmo depois que voltamos o pessoal continuou usando porque ele serviu, teve sua finalidade, ele foi útil, mas foi um agasalho que, na primeira vez que nós olhamos, foi uma coisa de todo mundo falar: Meu Deus! Vamos ter de usar isso? Vamos ser chamados de Yakult. E não deu outra. Era o time Yakult. Ele era muito feio. Eu nem sei onde está o meu. Acho que a minha esposa jogou fora, porque tem coisa que a gente guarda. Eu guardo camisas da época, meus filhos tinham camisas iguais às dos jogadores, com nome atrás, porque eles faziam parte, e a gente guarda isso até hoje. Mas acho que o Yakult eu não guardei. Tenho muita saudade dessa época. A gente encontra o grupo hoje, com os colegas dessa época e quando sentamos para conversar, a primeira coisa que vem à cabeça são as viagens a Florianópolis, Santos, São Carlos, porque foram muito boas.

 

Pergunta: Gostaria de perguntar como foi a sua passagem de aluno para professor?

 

Resposta:

Essa é uma fase engraçada da minha vida porque eu estava no melhor momento profissional da minha vida. Tinha passado a superintendente da empresa, com um salário muito bom. A empresa precisava da gente fuIl time, integralmente, e não dava para se dedicar à vida de professor. Só que eu sempre fui professor. Mesmo quando estudava, eu dava aula em cursinho, sempre em alguma atividade. Quando eu fiz matemática, a minha idéia era fazer matemática para dar aula, só que nesse período entrei na empresa e cresci dentro da empresa. Eu estava na empresa tinha um ano e meio e fui convidado a ser gerente, porque o gerente que estava saiu. E para a minha sorte, foi posto outro no lugar e não deu certo. Aí me convidaram e eu aceitei o cargo, o desafio, e fui ser superintendente da empresa. Em 1987 eu estava fazendo pós-graduação aqui e alguns professores que já me conheciam queriam que eu fosse dar aula. Só comecei a dar aula em 1988, porque foi quando eu recebi um telefonema, em junho, do professor Mauri Guerra, que era chefe de departamento na época, para substituir o professor Dênis que tinha feito uma cirurgia, se eu podia aplicar as provas dele, do professor Dênis Donário, que hoje é coordenador do curso de administração. Aí eu vim e fiz isso. No final de junho tocou o telefone em casa e o Mauri perguntou se eu topava ir conversar com ele. Vim aqui conversar com ele no IMES, só tinha o Prédio B na época, e ele falou que o Dênis teve uma complicação cirúrgica, teve uma infecção hospitalar e ia ficar muito tempo afastado e perguntou se dava para eu substituí-lo. Eram duas turmas e eu comecei a dar aulas no IMES. Só que infelizmente o problema dele foi mais grave e ficou afastado até fevereiro, e isso era em agosto. Eu dei aula para essas turmas, terminei as aulas, apliquei os exames, na época existia a segunda época, apliquei as segundas épocas e quando voltei para entregar as notas das segundas épocas, para me desligar do IMES, entrei na sala de horário, e na época o horário não era feito como é hoje, no computador, nós tínhamos uma placa com ímãs que você ia mudando de lugar. Eu entrei na sala de horários e quem coordenava os horários naquela época era o professor Ramon junto com o professor Mauri e entrei e vi lá: Santander, duas salas. Não sou mais eu, troca o nome. Não, é você sim. Vamos lá conversar com o Sílvio. O diretor era o professor Sílvio Minciotti e ele não me deixou nem falar: Você vai começar e você vai ficar aqui no IMES para o resto da vida. E foi o que realmente aconteceu. Eu já tinha contato com o Sílvio de São Caetano e tive um contato maior quando estava no Diretório Acadêmico, porque ele era diretor já naquela época. Nós já nos conhecíamos e ele falou que as minhas referências eram boas para dar aula, os alunos gostavam de mim e eu ia ficar. E a aula é um vírus. Quando você pega um vírus, não tem tratamento. Esse é o tipo do vírus que não tem tratamento. Comecei no IMES dando aula para duas turminhas e a cada ano vai aumentando um pouco. Na época o professor Mauri Guerra foi trabalhar no Recife e aí sobraram mais turmas e eu fui ficando. Ao sair da empresa assumi mais aulas aqui e também entrando no IMES, veio o lado inquieto do Santander. Eu, já logo de cara, fui para a associação dos professores trabalhar. Lembro até hoje da primeira festa que fiz no Pampas Palace Hotel e lembro bem porque quando me casei a minha lua-de-mel foi no Pampas e já conhecia o Pampas. Eu fui ajudar a arrumar o salão do Pampas e estava lá o professor José Carlos Ruga, o professor Ramon, o Mauri, o Lopes, todo o pessoal da associação dos professores, da Aprofimes da época, e já comecei a me enturmar. Eu me enturmei demais, virei diretor da Aprofimes e, em um certo ano, em 1994, virei presidente e continuo ajudando até hoje a associação. Eu ajudo todas as chapas, antigamente com mais atividades, mas hoje já estou ficando velho e já começo a diminuir um pouco o ritmo e não dá para entrar com muita força, mas a gente continua a ajudar a associação. É um negócio engraçado, porque como a gente teve um relacionamento muito forte com os professores, e a gente acompanhou esse crescimento muito grande do IMES, de 60 professores que nós éramos quando entrei aqui, para hoje quase 350 professores, a gente teve contato com esses professores todos. A Aprofimes dá isso, faz com que você se relacione bem com os professores. E depois de uma época da minha vida no IMES comecei a fazer parte do vestibular do IMES e também da elaboração do horário da escola. Aí você tem um contato maior com os professores. Você sabe qual é o professor, você conhece o nome e tal. E quando vou às festas hoje, eu falo que não sou mais diretor e vou ficar quieto, deixar o pessoal trabalhar, porque você tem de deixar espaço para os outros também, mas daqui a pouco eu estou quieto no meu canto, mas chega alguém pedindo ajuda para alguma coisa, se dá para identificar os professores que estão na festa. Na última festa da Aprofimes, a professora Telma teve uma idéia maravilhosa, onde você recebia um brinde que não era seu, mas para você entregar para outro professor, e tinha o nome do professor. Eu peguei o meu e vi o nome e sabia quem era. Agora, a maioria dos colegas chegava, pegava o pacote e olhava na sala e perguntava: Santander, quem é esse cara? Você tem professores do Campus 1 e do Campus 2 e o pessoal não tinha contato com o Campus 2 e com muitos professores da casa. Como a gente trabalhou na atividade de horários, no vestibular e na própria Aprofimes, então nós temos um contato maior e sabemos o nome dos professores, nome e sobrenome inclusive. Saber nome e sobrenome de professor é uma coisa complicada. A gente fazia o horário e a gente tinha de ter contato com os nomes. E nessas atividades em que você quer ficar quieto, chegada hora de não fazer mais nada, vamos virar professor, mas não dá. Outro dia um professor chegou para mim e disse: Estou te achando muito quieto, você está doente? Eu estava com o nervo ciático atacado realmente. Só assim você fica quieto. Você quieto não é legal. Você tem de agitar. A gente agita. Aqui na associação dos professores nós fazíamos às sextas-feiras o encontro dos professores. Acabavam as aulas e nós fazíamos torneios com os professores que ficavam após as aulas. Torneios, na sala dos professores; nós fizemos até boliche e fizemos sinuca, que foi uma desgraça, porque o que os professores são ruins de sinuca não era brincadeira. Boliche até que tinha um pessoal legal para jogar, mas sinuca deu dó da mesa, porque o pessoal é muito ruim, tanto é que fizemos uma vez e nunca mais fizemos. Mas o que pegou foi dominós, por incrível que pareça. E o pretexto não era jogar, porque dominó é um jogo de velho, mas nós fizemos e o pessoal quer que tornemos a fazer torneios de dominó às sextas-feiras, porque o torneio era só o pretexto, porque o motivo maior era fazer o jantar. Nós fizemos paella, comidas italianas, comida chinesa e comida baiana, bobó de camarão. E o pessoal ficava para comer. Professor chega para dar aula às sete horas, não jantou, chegava onze da noite e estava todo mundo morto de fome. E as comidas que nós fazíamos eram especiais, a gente encomendava. E o pessoal começava a jogar dominó olhando para a porta, para que hora chegaria comida. Chegava a ter pizza também, mas o motivo era ficar junto. A gente ficava das onze até uma da manhã. Aí descia a direção também, o Marco Antônio Vaz, o Laércio, o professor Macedo várias vezes participou dessas atividades, para descer e conversar naquele momento informal, onde você até resolvia as coisas, porque você até falava as coisas, mais livre e solto. Alguma coisa que você tem receio de falar, às vezes saíam e as soluções saíam no dominó. Faz dois anos que a gente não faz o dominó, mas a reclamação está grande, porque o pessoal quer fazer outra vez. Mas aí o pessoal que fazia já está mais cansado, mas estamos articulando para fazer outra vez. Tem de voltar essa atividade de integração de professores, porque são muito saudáveis. Você ficar batendo papo faz você ficar mais amigo e você até resolve as coisas mais facilmente, fica mais fácil conversar. E para a nossa felicidade, até algumas professoras começaram a participar, porque não é o clube do bolinha. Só que as professoras são casadas e não dá para chegar para o marido e falar: Estou no IMES jogando dominó. Para o marido é fácil falar, mas para a mulher fica mais difícil. Fizemos uma vez, para agradar aos maridos das professoras, o boliche de domingo, com um almoço. Aí os maridos vieram para participar, o que é legal também para integrar a família, porque, quanto mais você integrar  a família, melhor fica o seu ambiente de trabalho. Trabalhar também é uma coisa que quem inventou não tinha o que fazer.

 

Pergunta: Você tocou num ponto de ter professoras. Quando você entrou no IMES, quantas professoras havia e como era trânsito entre os professores?

 

Resposta:

Quando entrei na faculdade lembro que a Carminha, a Maria do Carmo dava aula, que está conosco até hoje. A Maria do Carmo sempre com o jeito dela muito simpático, que é a nossa coordenadora do Centro de Pesquisas. Tinha também a Neide, de sociologia, que logo se afastou e logo depois entrou a Neusa Barrazal, mulher do Ramon. E por muito tempo ficaram apenas elas. Depois de algum tempo que entrou a Telma, que foi quando começaram os cursos de comunicação, porque nos cursos de administração, economia, computação, que eram os nossos cursos da época, não existiam muitas mulheres. Aliás, até hoje não tem, porque são carreiras mais masculinas. Não sei o motivo, mas há uma incidência muito grande de homens nesses cursos. Quando nós começamos com os cursos de comunicação, jornalismo e publicidade, aí começaram a chegar mulheres. Foi estranho, porque nós não estávamos preparados para isso, os homens. Até então nosso relacionamento, a sala dos professores era um lugar, se mulher entrasse, tinha de tomar muito cuidado, porque eram apenas homens e às vezes saía muita besteira. Apesar de ser sala do saber, a gente brinca com essas coisas, mas saía muita besteira. E quando começamos a ter as mulheres no nosso convívio, houve uma mudança de comportamento. Você passa a ser mais controlado. E foi muito rápido, porque de repente, de um ano para o outro, saímos de duas ou três para vinte. Na época entraram professoras quer tinham a característica do curso de comunicação. E logo depois entrou o curso de direito, que também tem uma grande quantidade de mulheres. E começou a ter uma mistura de perfis. A mulher do direito tem um perfil, a mulher da publicidade tem outro perfil. O homem, o professor de direito. A sociedade tem umas coisas engraçadas, porque você consegue reunir num mesmo grupo o pessoal de administração e economia, mas é difícil você agregar o pessoal do direito. Você entra na sala e tem uma mesa, é a mesa do pessoal do direito. Eles parecem se juntar lá. Acontece isso também com comunicação, mas também é por causa do perfil da pessoa. O perfil do professor de comunicação, o perfil do professor de direito e o perfil dos professores de administração são totalmente diferentes. Então, começou-se a criar grupos. Você percebe claramente na sala dos professores quais são os grupos. E às vezes, até brincando, o pessoal pergunta: Santander, esse professor de onde é? Pelo jeito é de comunicação, pelo jeito é de direito. É a característica. Você  consegue começar a identificar o professor pela sua postura. O professor de administração tem uma postura diferente. Nós éramos a maioria, a administração era maioria, e hoje nós não somos mais maioria, mas somos mais um, o que é saudável. Não existe poder, existe um grupo, união e tal. Com a ida do pessoal do direito e da saúde, que não ficaram aqui, mas em outro campus, no Campus 2, e a criação do Prédio D, da comunicação, a sala dos professores voltou a ser praticamente a mesma sala que era antigamente, voltada mais ao pessoal de administração, economia e computação, porque o pessoal de comunicação tem seu próprio prédio, o pessoal de direito foi para outro prédio. Isso é ruim. O crescimento tem as vantagens, precisa crescer, precisa desenvolver, mas tem as suas desvantagens, porque você perde o contato com as pessoas. E esse contato com esses grupos heterogêneos é saudável e agrega valores. Você precisava ter o pessoal de fora. Tanto que nas festas de hoje a gente não consegue mais ter aquela união do pessoal como era antigamente, de todo mundo se juntar, porque hoje temos os grupos, que são das suas áreas de atividade.

 

Pergunta: Você pode falar um pouco do perfil dos alunos no tempo em que você era aluno? Você pode falar do perfil dos alunos do IMES? Você já falou da idade, mas eles trabalhavam?

 

Resposta:

Esse é um diferencial brutal da época em que nós estamos para a época anterior. A primeira geração do IMES é uma geração de profissionais, de uma faixa etária mais alta, 30 anos, de pessoas de mercado, que já estavam colocadas, chefes, encarregados, que vinham buscar a faculdade como um título ou para crescimento no emprego. A segunda geração, que é a minha geração, de 1980 a 88, é uma geração de jovens, de 23, 24 anos, alguns mais velhos, como era o meu caso, mas também profissionalmente bem colocados, com uma situação financeira muito estável. Na época eu lembro que nós fizemos um trabalho para o professor Sílvio Minciotti em que nós conseguimos, via diretório, duas bolsas integrais para cada sala de aula, para ajudar os alunos na mensalidade. Isso era importante na época, duas bolsas por sala. Se você falar hoje, precisa de vinte. Só que tinha salas de aula que não precisavam da bolsa. A minha sala era uma delas. O trabalho feito na sala, pelos representantes, mostrava que ninguém precisava de bolsa. Estava todo mundo colocado profissionalmente, o desemprego quase não existia e todo mundo ganhava o suficiente para pagar a escola. Então, essas bolsas que não eram usadas em uma sala eram passadas para outras salas que precisavam e isso ajudava os alunos mais carentes. O perfil do aluno da minha época era um perfil atuante agitado e ativo, querendo participar das coisas, vivendo um momento político onde ele achava que tinha de buscar um espaço. Estamos falando de 1983, 1984. Os partidos políticos da região já estavam mais ativos. Era um pessoal ativo e um pessoal que tinha exatamente a consciência do que queria, profissionalmente e em termos educacionais. Sabia porque estava fazendo faculdade. O que se observa de um tempo para cá? A faixa etária caiu muito. Até brinco que nós dávamos aulas para senhores, para adultos, e agora damos para a molecada, porque na verdade o jovem de hoje, de 18, 19 anos, que é a nossa média de idade aqui, ele é muito jovem. A cabeça de um jovem de 19 anos hoje é totalmente diferente da cabeça do jovem da minha época. Então, ele não tem muito interesse em política. Você não vê atividade política em faculdade. Ele não tem tempo, pela sua própria situação profissional e social, de ficar envolvido em movimentos e em atividades na escola, ele quer acabar a aula e ir embora. Se você fizer uma atividade de sábado aqui ele não vem, porque ele quer descansar. Hoje a pressão profissional, e eu brinco muito com isso, lembro do tempo em que era chefe na empresa, na CBC, e eu tinha muitos alunos do IMES, eles tinham provas e iam para a sala de reuniões e se trancavam para ficar estudando, ou eu dava saída para eles virem para a faculdade estudar. Abriam-se livros na mesa para estudar. Se você fizer isso numa empresa hoje, você é mandado embora. Você não pode nem levar um livro, quanto mais abrir o livro, porque houve uma coisa, provocada pela administração moderna, e aí entra a administração, houve uma redução tão grande de pessoas, pela própria tecnologia, e a informática ajuda nisso, que não dá para pegar uma pessoa que está trabalhando e mandar parar meia hora para estudar. Não dá para falar que ele vai sair no horário. A empresa hoje suga muito o jovem. O jovem de hoje tem muito menos condições de fazer uma boa escola do que nós tivemos. Nós podemos dizer que nós éramos felizardos, nós tínhamos condições muito mais favoráveis do que os jovens de hoje. Ele tem uma vida muito mais estressante e tem uma condição financeira muito inferior daquela época, onde eu lembro até hoje que fiz uma pesquisa na faculdade, na época em que eu era acadêmico, que a faculdade representava 12 a 15% do orçamento do aluno. O aluno pagava a faculdade com 12 a 15% da sua renda. Hoje você pega um aluno e a faculdade representa de 70 a 100% da sua renda. Isso torna a faculdade muito pesada nesse aspecto. Mas não é por culpa da faculdade, mas por culpa da sociedade que provocou isso, o achatamento salarial. Se a gente fizer uma avaliação dos salários, na época em que a gente estava, em 1982, 1983 e hoje, o achatamento foi brutal. Então, o jovem de hoje sente que o que falta para ele é um pouco de expectativa e futuro, visão de futuro. Nós tínhamos visão de futuro. O jovem de 1970, quando começou o IMES, até o jovem de 1990, sabia exatamente que estava fazendo faculdade e o que ia acontecer. Hoje o jovem não tem essa expectativa, não tem uma definição do que pode acontecer com ele daqui a dois ou três anos, nem nós temos. Hoje nós vivemos no mundo uma incógnita. Como vai ser a sociedade do ABC daqui dois anos? Não sabemos, não dá para dar uma acertiva sobre isso. Antigamente era mais fácil.

 

Pergunta: E o que você lembra da estátua de São Pedro?

 

Resposta:

A brincadeira era que quando a gente entrou a estátua era pequena e foi crescendo com a gente. Mas sempre digo que essa estátua tem de ficar aí na frente do IMES, porque coincidência ou não, depois que ela foi colocada, o IMES cresceu. Depois que a estátua de São Pedro foi colocada, o IMES cresceu. O IMES era pequeno, com dois mil e poucos alunos; e o IMES cresceu. São Pedro ajudou, a estátua ajudou? Não vamos tirá-la não. Deixem-na lá. Essa estátua foi feita por um escultor baiano que morava em São Caetano, o Agenor, e ele fez a estátua, a pedido do Prefeito da época, para mandar para o Papa, não me pergunte o nome do Papa da época. Fizeram tudo certinho. Ele fez a estátua, ela foi feita em praça pública, esculpida aqui na Avenida Goiás, e era para ser mandada para o Vaticano. Só que na hora de mandar para o Vaticano descobriram que fazer a estátua era fácil e o custo de mandar a estátua era absurdo. Aí começaram, viram que não dava para mandar para o Vaticano e começaram a tentar oferecer aqui no Brasil e não se conseguia tirar a estátua do local. Ela estava deitada na frente da Prefeitura. Ninguém queria porque o custo do transporte, da locomoção, da instalação dessa estátua era muito alto. Na época, quem participou desse projeto, não tenho certeza, foi o professor Oscar Garbelotto, e de repente, a estátua veio parar onde? Para o IMES. E por aquelas coincidências, parece que ela sempre esteve aí. Ela casou direitinho naquele lugar e ficou lá. Com a reforma e a construção do Prédio A, ela foi tirada e foi colocada num depósito onde pegou cupim, foi recuperada posteriormente e voltou para o seu lugar e acho que ela tem de ficar lá, porque ela hoje faz parte da imagem do IMES, ela representa um pouco da história do IMES. Acho que o Papa não quis a estátua. A partir daí, que ele não levou a estátua de São Pedro para o Vaticano, que a Igreja Católica começou a perder peso. Se ele levasse essa estátua..., porque ela trouxe muita sorte para o IMES, ela trouxe uma proteção. São Pedro traz uma proteção ao IMES. Eu estava na casa de umas amigas da minha esposa, que são devotas de São Pedro, e tinha a estátua de São Pedro na sala e elas fazem todo dia, a qualquer hora, a oração a São Pedro. Eu entrei e falei: São Pedro. Você conhece São Pedro? Eu sou do IMES e vivi, todo dia entrando no IMES e via São Pedro. Uma das poucas estátuas, não sou muito religioso, mas é uma das poucas estátuas que eu conheço. Eu contei para ela isso, que não minha opinião, eu acho que a estátua trouxe sorte, não a estátua, mas a figura de São Pedro, porque ele é uma das pessoas da Igreja Católica, é o ícone da igreja, tanto que, com a eleição do Papa, quando morreu João Paulo II e entrou o Bento, eu fiquei sabendo que nenhum Papa pode se chamar Pedro, porque Pedro foi um só e ninguém pode se comparar a Pedro. Deixa Pedro com a gente, porque ele está num bom lugar.

 

Pergunta: Para terminar a gente pede que o depoente faça um testamento, deixe uma mensagem que queira que fique registrada.

 

Resposta:

O IMES foi feito de desafios e espero continuar tendo desafios no IMES. A minha grande esperança é saber que o IMES é uma escola diferenciada e a grande esperança é que a gente esteja aqui para o cinqüentenário do IMES, para fazer um depoimento também, porque quem vive o IMES, e vocês também vivem o IMES há alguns anos, e dão aula em outras escolas, outras faculdades, percebem que o IMES é diferente. Se a gente fosse falar do IMES aqui, vocês podiam colocar aqui uns canapés e a gente ficaria conversando o dia inteiro sobre o IMES, porque na verdade a gente vive o IMES. Isso não acontece, infelizmente, em outras escolas. O professor que chega no IMES, a primeira coisa que ele fala é que o IMES é diferente. O IMES é uma faculdade, uma escola diferente e esperamos estar aqui no cinqüentenário, com vocês também, não sozinhos aqui, estarmos juntos aqui falando do cinqüentenário do IMES, que não está muito longe. O tempo passa muito rápido. Obrigado a vocês.

 


Acervo Hipermídia de Memórias do ABC - Universidade de São Caetano do Sul